quinta-feira, 8 de agosto de 2013

AVIS MELLÍFERA 2013

Foi com enorme satisfação que participei em mais uma edição da AVIS MELLÍFERA, que se realizou no passado dia 27 de Julho na vila de Avis.

O evento que habitualmente se realizava no final do ano foi realizado em Julho e assim continuará a ser em futuras edições.

A edição deste ano iniciou-se com a realização de um workshop sobre núcleos em roofmate, dinamizado pelo Eng.º Paulo Ventura, no qual foi possível aprender a construir uma solução desse tipo, que serve na perfeição para o desenvolvimento inicial de um enxame.

Ainda durante a parte da manhã foi possível conhecer um projecto apresentado pelo Eng.º Joaquim Domingos na área da segurança de colmeias e apiários, no qual pretende juntar um sistema de gestão, monitorização e segurança, dando resposta não apenas à questão dos roubos, que tanto preocupa os apicultores portugueses, mas também juntando muitas outras opções que podem originar um sistema integrado de gestão apícola.


Apesar de ser um tema muito actual e importante para todos os apicultores, ficou bem patente que quanto mais complexo for o sistema, mais caro se torna, o que pode fazer com que não seja acessível a todos os apicultores, sobretudo se optarem pela versão mais completa.

Ainda assim, foi um bom período de reflexão e de absorção de informação, que permitiu conhecer as mais inovadoras tecnologias colocadas ao serviço da apicultura, sobretudo no que se refere a sistemas anti-roubo.

Após o almoço, a acção iniciou-se com a realização de uma homenagem a pessoas/entidades que têm apoiado a ADERAVIS ao longo dos últimos anos, sendo de salientar a presença entre os homenageados da Câmara Municipal de Avis e das Juntas de Freguesias do concelho, sinónimo que estas entidades públicas têm um papel importante na ligação com a associação e com o mundo apícola. É louvável que assim seja e seria um bom exemplo a replicar por todo o território nacional, pois seguramente a apicultura só teria a ganhar.















Terminada a homenagem seguiu-se um colóquio onde se abordaram as seguintes temáticas:

1 - “As colmeias estrangeiras e o esgotamento de recursos apícolas” pelo Eng. João Tomé;

2 - “Apiterapia” pelo Dr. José Valdez;

3 - “Eu fiz um projecto de apicultura” pelo Eng.º Osvaldo Silva;

4 - “Produção e processamento de pólen e própolis” pelo Eng.º Paulo Ventura;

O Eng.º João Tomé apresentou um belíssimo trabalho de investigação que realizou sobre o impacto das colmeias estrangeiras no nosso território, tendo realizado diversas demonstrações gráficas que facilmente comprovam que em certas zonas do país há uma forte sobreposição de apiários, muito por culpa da chegada de colmeias estrangeiras que são colocadas em locais onde já existem apiários nacionais.

Esta sobreposição determina claramente uma enorme escassez de pasto apícola que seja capaz de satisfazer os apicultores nessas zonas, com claro prejuízo para os apicultores residentes e permanentes, que não optam pela transumância.

Esta temática é bem reveladora, a meu ver, de três aspectos muito importantes…

1) - Os apicultores estrangeiros, que mesmo conhecendo a legislação nacional, instalam os seus milhares de colmeias, sem respeitar os apiários vizinhos, sobretudo ao nível do cumprimento das distâncias obrigatórias de afastamento entre assentamentos.

2) - As entidades nacionais com competência na área da fiscalização, que deviam ser mais actuantes e interventivas, evitando situações de desrespeito pela legislação e fiscalizando de forma mais exigente as colmeias estrangeiras que chegam ao nosso país, sobretudo no que respeita à área da sanidade apícola.

3) - Faz cada vez mais sentido que se utilizem as novas tecnologias para a identificação de apiários por parte das autoridades nacionais, através da georreferenciação, evitando-se assim a possibilidade de instalação de novos apiários em espaços que não cumprem os afastamentos obrigatórios.

Este é sem dúvida um dos temas mais “quentes” da apicultura nacional, sendo ele referido em todos os encontros de apicultores em que já estive presente.

Ao que parece, as entidades conhecem perfeitamente o problema, mas não estão interessadas em resolvê-lo… Vá lá perceber-se porquê….

O segundo orador convidado, Dr. José Valdez, fez uma apresentação bastante simpática onde mostrou todos os benefícios da utilização dos produtos da colmeia na saúde humana, tendo deixado algumas pistas de tratamento para uma série de sintomatologias que muitas vezes levam as pessoas a recorrer a produtos químicos/farmacêuticos, quando as abelhas têm a solução para uma boa parte desses problemas.

Foi ainda possível ouvir da plateia alguns testemunhos de pessoas que conseguiram ultrapassar dificuldades de saúde com recurso à apiterapia.

Na intervenção efectuada no terceiro tema pelo Eng.º Osvaldo Silva, ficou bem patente a dificuldade de executar um projecto na área da apicultura, sobretudo no que toca ao relacionamento com as entidades públicas que gerem estes processos, que ainda se encontram carregadas de burocracia, bem como de meios humanos com pouca sensibilidade para algumas questões e aos quais muitas vezes falta formação e conhecimentos adequados.

Não bastava já a exigência e complexidade de executar alguns ambiciosos projectos, como ainda há que estar preparado para a exigência da máquina administrativa, que nestes casos não perdoa e é insensível a alguns problemas e situações particulares.

Esta apresentação deveria ter sido ouvida por muitos aspirantes a apicultor que se atiram de cabeça na execução de projectos financiados, sem que muitas vezes consigam distinguir uma obreira de um zangão….

Em boa hora a ADERAVIS colocou um orador a falar por experiência própria na elaboração e concretização de um projecto apícola financiado, devendo em minha opinião este tipo de apresentação fazer parte de muitas outras acções apícolas nacionais, onde na plateia se encontram quase sempre dezenas ou centenas de jovens à procura de lucro fácil através do mundo das abelhas.

A última apresentação do dia esteve a cargo do Eng.º Paulo Ventura, que para além de falar sobre a produção e processamento de pólen e própolis, falou de muitos outros temas ligados à apicultura nacional.

Este orador, experiente apicultor, tem uma visão integrada da apicultura e dos produtos que se podem extrair da colmeia, não se limitando como é mais comum nos apicultores, a ver no mel a única fonte de produção.

Foi por isso para mim muito gratificante ouvir alguém com experiência e com escala, falar de uma apicultura integrada, onde se pode extrair rendimento através dos vários produtos da colmeia e não apenas do mel.

Retive também com este orador que com esforço, dedicação e muito trabalho é possível singrar no mundo da apicultura sem ser necessário entrar em projectos megalómanos, para onde caminha uma boa parte dos recentes apicultores que recorrem a fundos comunitários.

Em suma, mais uma belíssima jornada de aprendizagem em torno das abelhas, magnificamente pensada e organizada pela ADERAVIS, a quem deixo os meus parabéns e votos de continuação de bom trabalho.


Saudações Apícolas!!