Foi com enorme satisfação que
participei em mais uma edição da AVIS MELLÍFERA, que se realizou no passado dia
27 de Julho na vila de Avis.
O evento que habitualmente se
realizava no final do ano foi realizado em Julho e assim continuará a ser em
futuras edições.
A edição deste ano iniciou-se com
a realização de um workshop sobre núcleos em roofmate, dinamizado pelo Eng.º
Paulo Ventura, no qual foi possível aprender a construir uma solução desse
tipo, que serve na perfeição para o desenvolvimento inicial de um enxame.
Ainda durante a parte da manhã
foi possível conhecer um projecto apresentado pelo Eng.º Joaquim Domingos na
área da segurança de colmeias e apiários, no qual pretende juntar um sistema de
gestão, monitorização e segurança, dando resposta não apenas à questão dos
roubos, que tanto preocupa os apicultores portugueses, mas também juntando
muitas outras opções que podem originar um sistema integrado de gestão apícola.
Apesar de ser um tema muito
actual e importante para todos os apicultores, ficou bem patente que quanto
mais complexo for o sistema, mais caro se torna, o que pode fazer com que não
seja acessível a todos os apicultores, sobretudo se optarem pela versão mais
completa.
Ainda assim, foi um bom período
de reflexão e de absorção de informação, que permitiu conhecer as mais
inovadoras tecnologias colocadas ao serviço da apicultura, sobretudo no que se
refere a sistemas anti-roubo.
Após o almoço, a acção iniciou-se
com a realização de uma homenagem a pessoas/entidades que têm apoiado a
ADERAVIS ao longo dos últimos anos, sendo de salientar a presença entre os
homenageados da Câmara Municipal de Avis e das Juntas de Freguesias do
concelho, sinónimo que estas entidades públicas têm um papel importante na
ligação com a associação e com o mundo apícola. É louvável que assim seja e
seria um bom exemplo a replicar por todo o território nacional, pois
seguramente a apicultura só teria a ganhar.
Terminada a homenagem seguiu-se
um colóquio onde se abordaram as seguintes temáticas:
1 - “As colmeias estrangeiras e o
esgotamento de recursos apícolas” pelo Eng. João Tomé;
2 - “Apiterapia” pelo Dr. José
Valdez;
3 - “Eu fiz um projecto de
apicultura” pelo Eng.º Osvaldo Silva;
4 - “Produção e processamento de
pólen e própolis” pelo Eng.º Paulo Ventura;
O Eng.º João Tomé apresentou um
belíssimo trabalho de investigação que realizou sobre o impacto das colmeias
estrangeiras no nosso território, tendo realizado diversas demonstrações
gráficas que facilmente comprovam que em certas zonas do país há uma forte
sobreposição de apiários, muito por culpa da chegada de colmeias estrangeiras
que são colocadas em locais onde já existem apiários nacionais.
Esta sobreposição determina
claramente uma enorme escassez de pasto apícola que seja capaz de satisfazer os
apicultores nessas zonas, com claro prejuízo para os apicultores residentes e
permanentes, que não optam pela transumância.
Esta temática é bem reveladora, a
meu ver, de três aspectos muito importantes…
1) - Os apicultores estrangeiros,
que mesmo conhecendo a legislação nacional, instalam os seus milhares de
colmeias, sem respeitar os apiários vizinhos, sobretudo ao nível do cumprimento
das distâncias obrigatórias de afastamento entre assentamentos.
2) - As entidades nacionais com
competência na área da fiscalização, que deviam ser mais actuantes e
interventivas, evitando situações de desrespeito pela legislação e fiscalizando
de forma mais exigente as colmeias estrangeiras que chegam ao nosso país,
sobretudo no que respeita à área da sanidade apícola.
3) - Faz cada vez mais sentido
que se utilizem as novas tecnologias para a identificação de apiários por parte
das autoridades nacionais, através da georreferenciação, evitando-se assim a
possibilidade de instalação de novos apiários em espaços que não cumprem os
afastamentos obrigatórios.
Este é sem dúvida um dos temas
mais “quentes” da apicultura nacional, sendo ele referido em todos os encontros
de apicultores em que já estive presente.
Ao que parece, as entidades
conhecem perfeitamente o problema, mas não estão interessadas em resolvê-lo… Vá
lá perceber-se porquê….
O segundo orador convidado, Dr.
José Valdez, fez uma apresentação bastante simpática onde mostrou todos os
benefícios da utilização dos produtos da colmeia na saúde humana, tendo deixado
algumas pistas de tratamento para uma série de sintomatologias que muitas vezes
levam as pessoas a recorrer a produtos químicos/farmacêuticos, quando as
abelhas têm a solução para uma boa parte desses problemas.
Foi ainda possível ouvir da
plateia alguns testemunhos de pessoas que conseguiram ultrapassar dificuldades
de saúde com recurso à apiterapia.
Na intervenção efectuada no
terceiro tema pelo Eng.º Osvaldo Silva, ficou bem patente a dificuldade de
executar um projecto na área da apicultura, sobretudo no que toca ao
relacionamento com as entidades públicas que gerem estes processos, que ainda
se encontram carregadas de burocracia, bem como de meios humanos com pouca
sensibilidade para algumas questões e aos quais muitas vezes falta formação e
conhecimentos adequados.
Não bastava já a exigência e
complexidade de executar alguns ambiciosos projectos, como ainda há que estar
preparado para a exigência da máquina administrativa, que nestes casos não
perdoa e é insensível a alguns problemas e situações particulares.
Esta apresentação deveria ter
sido ouvida por muitos aspirantes a apicultor que se atiram de cabeça na
execução de projectos financiados, sem que muitas vezes consigam distinguir uma
obreira de um zangão….
Em boa hora a ADERAVIS colocou um
orador a falar por experiência própria na elaboração e concretização de um
projecto apícola financiado, devendo em minha opinião este tipo de apresentação
fazer parte de muitas outras acções apícolas nacionais, onde na plateia se
encontram quase sempre dezenas ou centenas de jovens à procura de lucro fácil
através do mundo das abelhas.
A última apresentação do dia
esteve a cargo do Eng.º Paulo Ventura, que para além de falar sobre a produção
e processamento de pólen e própolis, falou de muitos outros temas ligados à
apicultura nacional.
Este orador, experiente
apicultor, tem uma visão integrada da apicultura e dos produtos que se podem
extrair da colmeia, não se limitando como é mais comum nos apicultores, a ver no
mel a única fonte de produção.
Foi por isso para mim muito
gratificante ouvir alguém com experiência e com escala, falar de uma apicultura
integrada, onde se pode extrair rendimento através dos vários produtos da
colmeia e não apenas do mel.
Retive também com este orador que
com esforço, dedicação e muito trabalho é possível singrar no mundo da
apicultura sem ser necessário entrar em projectos megalómanos, para onde
caminha uma boa parte dos recentes apicultores que recorrem a fundos
comunitários.
Em suma, mais uma belíssima jornada
de aprendizagem em torno das abelhas, magnificamente pensada e organizada pela
ADERAVIS, a quem deixo os meus parabéns e votos de continuação de bom trabalho.
Saudações Apícolas!!
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